1 –
Primeiro momento do juízo de gosto, segundo a qualidade.
O belo para Kant não era algo que pudesse ser definido
através de conhecimentos objetivos ou por alguma técnica, ele tinha ligação
direta com as sensações que despertava no indivíduo. O sentimento de prazer ou
desprazer causado pelo objeto trazia a noção do que era belo ao particular. O
juízo de gosto, ou seja, o conceito de gosto não é lógico e sim estético e por
isso subjetivo. Não se pode designar uma definição para a beleza, ela é
composta por atributos que tocam seu observador de forma restrita. Para findar
seu pensamento Kant afirma que para exercer o juízo que define se algo é belo
ou não é fundamental está indiferente ao sentido prático da coisa julgada, esse
julgamento precisa ser inspirado na apreciação despretensiosa e seguindo o
instinto.
O juízo de gosto desperta a complacência, que é uma
compreensão de satisfação. A complacência que determina o juízo de gosto é
independente de todo o interesse, ou seja, não se pode ter estima por algo na
existência da coisa, quando se questiona se ela é bela ou não. O julgamento
precisa estar palpável apenas na simples contemplação (intuição ou reflexão).
Por outro lado a complacência no agradável é estritamente ligada ao interesse.
Agradável é aquilo que traz prazer, a sensação de deleite e satisfação pessoal.
Kant dá um exemplo bem esclarecedor sobre a complacência no agradável:
“A cor verde dos prados pertence à sensação objetiva, como percepção de um objeto
sentido; o seu agrado, porém pertence à sensação subjetiva, pela qual nenhum objeto é representado: isto é, ao
sentimento pelo qual o objeto é considerado como objeto da complacência.”
A complacência no agradável define as sensações que o
indivíduo tem ao observar a cor verde, o que é estritamente pessoal, pois a
mesma coisa pode não despertar nenhum deleite para o outro. Sendo assim quando
questionado sobre um objeto de cor verde, a opinião dada por alguém que se
agrada da coloração estará expressando seu interesse sobre o objeto de modo
pessoal, sendo assim, estimulada pelo sentimento que a cor causa. Infere-se
então que o agradável está ligado àquilo que nos causa satisfação.
Há também a complacência no bom, que da mesma forma se
liga ao interesse.
“Bom é o que apraz mediante a razão pelo simples conceito.”
(KANT, 1995, p. 52).
Existe o bom útil e o que é bom em si. O útil é algo que
agrada como meio e o bom em si agrada por ser o que é. O bom também se
distingue do agradável, o primeiro é moldado pelo conceito enquanto segundo é
movido pelas sensações. Algo pode ser bom em si, mas não agradável, como por exemplo:
as verduras para algumas crianças. Apesar de trazer o conceito de que faz bem à
saúde (necessariamente é bom), não traz boas sensações para quem desestima. O
bom tem sua complacência na existência do objeto, a essência da coisa, o
agradável tem complacência nas sensações que o objeto traz. Ambas estão ligadas
ao interesse.
A complacência no belo ou juízo de gosto é diferente de
todas as outras, é meramente contemplativa, é desinteressada e julga através do
prazer ou desprazer. Não há um interesse de utilidade, ou a sensação de agrado,
o agradável e o bom podem ser ludibriado, quando, por exemplo, alguém está com
fome e serve-se do primeiro prato que vê na frente. A comida pode não ser
apetitosa (sensação de prazer) e ser muito calórica (não ser boa em si). Deste
modo ambas se diferem do juízo de gosto que não é fundado em conhecimento ou
finalidade.Kant define as três complacências do seguinte modo:
“Agradável chama-se
para alguém aquilo que o deleita; belo, aquilo que meramente o apraz; bom, aquilo que é estimado,
aprovado, isto é, onde é posto por ele um valor objetivo”.
Um exemplo que define bem o juízo do gosto é a reação de
um bebê a um objeto ou a algo que se encontra no seu campo de visão. Quando alguém
sorri para um bebê pode receber duas reações como resposta – um sorriso ou o
choro. A criança não tem discernimento para julgar o gesto recebido, se aquilo
a apraz ela responde da forma que lhe convém. É a complacência do belo,
desinteressada, se manifestando.
2 –
Segundo momento do juízo de gosto, a saber, sua quantidade.
“O belo é o que é representado sem conceitos como objeto
de uma complacência universal.”
(KANT, 1995, p. 56)
Se algo é belo e não tem definições para isso é
consequentemente universal. Diferente das outras complacências, o juízo do belo
que se faz pelo prazer ou desprazer não é algo que pertence a um e sim a todos.
Quando alguém afirma: “O pôr do sol é lindo!”. Está sendo complacente com o
belo e não há discordância sobre isto. Ninguém vai afirmar o contrário, o
máximo que pode acontecer é outrem dizer que prefere o nascer do sol a pôr do
sol, exercendo assim o julgamento daquilo que mais lhe agrada (complacência no
agradável). Tal afirmação não anula a alegação anterior que é universal, não
existe conceito para explicar por que é belo, ele simplesmente é. O juízo do
belo, por ser subjetivo, apenas desperta o prazer por algo, já a intensidade
que aquilo nos toca depende inteiramente das sensações agradáveis (complacência
no agradável) e de como o objeto é estimado por nós (complacência no bom).
3 –
Terceiro momento do juízo de gosto, segundo a relação dos fins que nele é
considerada.
Para algo ter uma finalidade é preciso ter um propósito e
propósito exige conceito. Sendo assim, o juízo do belo não tem finalidade, pois
não tem conceito - é universal. Contudo existe uma conformidade a fins subjetiva, pela qual, o objeto nos é dado, e
quando temos consciência disso cria-se uma complacência que julgamos como
comunicável universalmente, tornando-se a base determinante do juízo do gosto.
Isso mostra que existe um fim particular, que é dado para cada indivíduo e a
percepção disto é universal, isto é, mesmo não tendo conceito para definir a
complacência do belo, há uma finalidade subjetiva que é visível a todos. Nossa
razão é voltada à organização, legalidade e harmonia e quando estamos diante do
belo, nossas considerações estão fora do âmbito desta razão, sendo assim, um
emaranhado de observações sem conceitos. A conformidade
a fins serve justamente para organizar essas noções colocando-as no plano
racional.
Kant menciona o Juízo de gosto puro que ele considera
como o jogo das faculdades de imaginação e entendimento em um jogo harmonioso.
É a simples junção da relação particular sentida pelo indivíduo com sua
capacidade de julgamento. Segundo Kant o juízo de gosto puro é independente de
atrativo e comoção, ou seja, é um gosto restritamente estético. Para ser puro o
juízo de gosto não pode ter nenhuma complacência meramente empírica (meramente
prática) misturada ao seu fundamento de determinação. Quando se contempla o
belo e um conjunto de sensações harmoniosas brotam dentro do íntimo do observador,
e tais sensações não são capazes de definir o objeto observado dar-se o nome de
juízo de gosto puro. É uma relação íntima, imaginativa consciente, universal e
estética.
4 -
Quarto momento do juízo de gosto: segundo a modalidade da complacência no
objeto.
Se algo é belo para todos, existe uma regra que define
esta complacência, mas se há tal regra o quesito em questão pode ser
conceituado e assim deixa de ser subjetivo. Existe um princípio que rege a
concordância sobre a beleza de algo, esse princípio tem sentido comum e é
totalmente privado.
“Mas, como necessidade que é pensada em um juízo
estético, ela só pode ser denominada exemplar,
isto é, uma necessidade do assentamento de todos a um juízo que é considerado
como exemplo de uma regra universal que não se pode indicar.” (KANT, 1995, p.
82)
Há uma concordância comum a todos que define a beleza,
mas não se pode explicar ou definir essa concordância. Existe essa noção
universal, que é norma para qualquer um, porém é um princípio subjetivo.
Considerações
finais
O belo não tem conceito, não pode ser definido e é
pessoal, é aquilo que toca o indivíduo de maneira particular, sendo assim,
diferente para cada situação. Para julgar é preciso estar abnegado de qualquer
interesse específico e analisar os sentidos gerados na observação daquilo que
se considera belo. Com isso entende-se que mesmo sendo uma experiência
individual há uma conformidade universal, ainda que sem regras e explicações é
a causa da complacência experimentada por todos. A imaginação é a sensação
dominante, ela leva a partícula pessoal de cada ser para diversos lugares,e é
essa harmonia de sensações que Kant cita, é um campo livre em que se pode
definir o que sente sem definir o objeto em si. O estético tem vínculo inerente
ao sentimento de prazer e desprazer que objeto nos causa, isto explica o estado
de ânimo, formado pela imaginação e o entendimento, que tem ligação direta com
o que consideramos belo.
“Belo é o que é conhecido sem conceito como objeto de uma
complacência necessária” (KANT, 1995, p. 86)

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