quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Análise Filosófica: Analítica do Belo segundo Immanuel Kant




1 – Primeiro momento do juízo de gosto, segundo a qualidade.

O belo para Kant não era algo que pudesse ser definido através de conhecimentos objetivos ou por alguma técnica, ele tinha ligação direta com as sensações que despertava no indivíduo. O sentimento de prazer ou desprazer causado pelo objeto trazia a noção do que era belo ao particular. O juízo de gosto, ou seja, o conceito de gosto não é lógico e sim estético e por isso subjetivo. Não se pode designar uma definição para a beleza, ela é composta por atributos que tocam seu observador de forma restrita. Para findar seu pensamento Kant afirma que para exercer o juízo que define se algo é belo ou não é fundamental está indiferente ao sentido prático da coisa julgada, esse julgamento precisa ser inspirado na apreciação despretensiosa e seguindo o instinto.



O juízo de gosto desperta a complacência, que é uma compreensão de satisfação. A complacência que determina o juízo de gosto é independente de todo o interesse, ou seja, não se pode ter estima por algo na existência da coisa, quando se questiona se ela é bela ou não. O julgamento precisa estar palpável apenas na simples contemplação (intuição ou reflexão). Por outro lado a complacência no agradável é estritamente ligada ao interesse. Agradável é aquilo que traz prazer, a sensação de deleite e satisfação pessoal. Kant dá um exemplo bem esclarecedor sobre a complacência no agradável:
“A cor verde dos prados pertence à sensação objetiva, como percepção de um objeto sentido; o seu agrado, porém pertence à sensação subjetiva, pela qual nenhum objeto é representado: isto é, ao sentimento pelo qual o objeto é considerado como objeto da complacência.”
A complacência no agradável define as sensações que o indivíduo tem ao observar a cor verde, o que é estritamente pessoal, pois a mesma coisa pode não despertar nenhum deleite para o outro. Sendo assim quando questionado sobre um objeto de cor verde, a opinião dada por alguém que se agrada da coloração estará expressando seu interesse sobre o objeto de modo pessoal, sendo assim, estimulada pelo sentimento que a cor causa. Infere-se então que o agradável está ligado àquilo que nos causa satisfação.
Há também a complacência no bom, que da mesma forma se liga ao interesse.

 “Bom é o que apraz mediante a razão pelo simples conceito.” (KANT, 1995, p. 52). 

Existe o bom útil e o que é bom em si. O útil é algo que agrada como meio e o bom em si agrada por ser o que é. O bom também se distingue do agradável, o primeiro é moldado pelo conceito enquanto segundo é movido pelas sensações. Algo pode ser bom em si, mas não agradável, como por exemplo: as verduras para algumas crianças. Apesar de trazer o conceito de que faz bem à saúde (necessariamente é bom), não traz boas sensações para quem desestima. O bom tem sua complacência na existência do objeto, a essência da coisa, o agradável tem complacência nas sensações que o objeto traz. Ambas estão ligadas ao interesse.
A complacência no belo ou juízo de gosto é diferente de todas as outras, é meramente contemplativa, é desinteressada e julga através do prazer ou desprazer. Não há um interesse de utilidade, ou a sensação de agrado, o agradável e o bom podem ser ludibriado, quando, por exemplo, alguém está com fome e serve-se do primeiro prato que vê na frente. A comida pode não ser apetitosa (sensação de prazer) e ser muito calórica (não ser boa em si). Deste modo ambas se diferem do juízo de gosto que não é fundado em conhecimento ou finalidade.Kant define as três complacências do seguinte modo:
Agradável chama-se para alguém aquilo que o deleita; belo, aquilo que meramente o apraz; bom, aquilo que é estimado, aprovado, isto é, onde é posto por ele um valor objetivo”.
Um exemplo que define bem o juízo do gosto é a reação de um bebê a um objeto ou a algo que se encontra no seu campo de visão. Quando alguém sorri para um bebê pode receber duas reações como resposta – um sorriso ou o choro. A criança não tem discernimento para julgar o gesto recebido, se aquilo a apraz ela responde da forma que lhe convém. É a complacência do belo, desinteressada, se manifestando.

2 – Segundo momento do juízo de gosto, a saber, sua quantidade.

“O belo é o que é representado sem conceitos como objeto de uma complacência universal.” (KANT, 1995, p. 56)

Se algo é belo e não tem definições para isso é consequentemente universal. Diferente das outras complacências, o juízo do belo que se faz pelo prazer ou desprazer não é algo que pertence a um e sim a todos. Quando alguém afirma: “O pôr do sol é lindo!”. Está sendo complacente com o belo e não há discordância sobre isto. Ninguém vai afirmar o contrário, o máximo que pode acontecer é outrem dizer que prefere o nascer do sol a pôr do sol, exercendo assim o julgamento daquilo que mais lhe agrada (complacência no agradável). Tal afirmação não anula a alegação anterior que é universal, não existe conceito para explicar por que é belo, ele simplesmente é. O juízo do belo, por ser subjetivo, apenas desperta o prazer por algo, já a intensidade que aquilo nos toca depende inteiramente das sensações agradáveis (complacência no agradável) e de como o objeto é estimado por nós (complacência no bom).
3 – Terceiro momento do juízo de gosto, segundo a relação dos fins que nele é considerada.

Para algo ter uma finalidade é preciso ter um propósito e propósito exige conceito. Sendo assim, o juízo do belo não tem finalidade, pois não tem conceito - é universal. Contudo existe uma conformidade a fins subjetiva, pela qual, o objeto nos é dado, e quando temos consciência disso cria-se uma complacência que julgamos como comunicável universalmente, tornando-se a base determinante do juízo do gosto. Isso mostra que existe um fim particular, que é dado para cada indivíduo e a percepção disto é universal, isto é, mesmo não tendo conceito para definir a complacência do belo, há uma finalidade subjetiva que é visível a todos. Nossa razão é voltada à organização, legalidade e harmonia e quando estamos diante do belo, nossas considerações estão fora do âmbito desta razão, sendo assim, um emaranhado de observações sem conceitos. A conformidade a fins serve justamente para organizar essas noções colocando-as no plano racional.
Kant menciona o Juízo de gosto puro que ele considera como o jogo das faculdades de imaginação e entendimento em um jogo harmonioso. É a simples junção da relação particular sentida pelo indivíduo com sua capacidade de julgamento. Segundo Kant o juízo de gosto puro é independente de atrativo e comoção, ou seja, é um gosto restritamente estético. Para ser puro o juízo de gosto não pode ter nenhuma complacência meramente empírica (meramente prática) misturada ao seu fundamento de determinação. Quando se contempla o belo e um conjunto de sensações harmoniosas brotam dentro do íntimo do observador, e tais sensações não são capazes de definir o objeto observado dar-se o nome de juízo de gosto puro. É uma relação íntima, imaginativa consciente, universal e estética.

4 - Quarto momento do juízo de gosto: segundo a modalidade da complacência no objeto.

Se algo é belo para todos, existe uma regra que define esta complacência, mas se há tal regra o quesito em questão pode ser conceituado e assim deixa de ser subjetivo. Existe um princípio que rege a concordância sobre a beleza de algo, esse princípio tem sentido comum e é totalmente privado.

“Mas, como necessidade que é pensada em um juízo estético, ela só pode ser denominada exemplar, isto é, uma necessidade do assentamento de todos a um juízo que é considerado como exemplo de uma regra universal que não se pode indicar.” (KANT, 1995, p. 82)

Há uma concordância comum a todos que define a beleza, mas não se pode explicar ou definir essa concordância. Existe essa noção universal, que é norma para qualquer um, porém é um princípio subjetivo.

Considerações finais

O belo não tem conceito, não pode ser definido e é pessoal, é aquilo que toca o indivíduo de maneira particular, sendo assim, diferente para cada situação. Para julgar é preciso estar abnegado de qualquer interesse específico e analisar os sentidos gerados na observação daquilo que se considera belo. Com isso entende-se que mesmo sendo uma experiência individual há uma conformidade universal, ainda que sem regras e explicações é a causa da complacência experimentada por todos. A imaginação é a sensação dominante, ela leva a partícula pessoal de cada ser para diversos lugares,e é essa harmonia de sensações que Kant cita, é um campo livre em que se pode definir o que sente sem definir o objeto em si. O estético tem vínculo inerente ao sentimento de prazer e desprazer que objeto nos causa, isto explica o estado de ânimo, formado pela imaginação e o entendimento, que tem ligação direta com o que consideramos belo.

“Belo é o que é conhecido sem conceito como objeto de uma complacência necessária” (KANT, 1995, p. 86)

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